quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sobreviventes: Biografia inicial

O inicio, ou o fim?


— Olá? Eu sou Marcus, e...  Deixa para lá, não sou muito bom em apresentações, me desculpa senhor (a), mas as coisas não eram assim... Talvez o tempo me fizesse um monstro, ou talvez eu já fosse? A verdade é que não sei mais quem sou. Mudei de todas as formas para pior, ou melhor? Não sei dizer.
Louco? Não, eu não sou. Apenas procuro por respostas, que talvez jamais possam existir.
Desilusão? Estresse estimulado pelas perguntas sem respostas? Instinto assassino?  Não! Sinceramente não são esses os motivos que fazem matar todos esses malditos demônios. Não os mataria se me deixassem passar. O meu alvo é Lúcifer, o traidor. Eu preciso encará-lo, preciso saber o porquê de tantos sofrimentos - talvez hoje o mate...
Pensamentos insanos estavam em minha cabeça, Miriam seria uma Siens? Meus filhos ficariam sozinhos com aquele homem? E agora, o que seria deles? Naquele momento de fúria e incertezas precisaria encontrar um culpado pela dor que me corroia, e sabia quem era ele (Lúcifer) o maldito demônio! Jamais fui ao inferno antes, mas para tudo se tem a primeira vez, iria de encontro a ele - estava decidido.
Após todos esses pensamentos, minha mente atordoada pelo desastre ocorrido na vida de meus ex-familiares, explode em fúria, o meu corpo havia sido rodeado por enormes feixes de luzes incandescentes, caminhei em direção à sala de sonolência, chutei com toda a minha força a porta branca, após derrubá-la, deslizei sobre o corredor... Sucumbi sobre todas as portas em uma velocidade incrível, nem mesmo Heiko poderia me superar naquele momento.
Depois de algumas horas, estava diante do portão negro, aquela era a moradia de todos os condenados que viveram suas mentiras. Logo na entrada vi dois guardas sobre os portões, em suas mãos carregavam grandes lanças de pontas douradas, tinham grandes asas como as de um grande morcego, rabos que lembravam a cauda de uma enorme cascavel.
Seus olhos eram avermelhados e os interiores amarelados, como os feixes dourados refletidos pelo ouro derretido. As presas tão ameaçadoras, quanto às de um enorme tigre adulto.
Quando me aproximei, fui recebido com grande arrogância, talvez não fosse acostumado a receber visitas, afinal quem ousaria invadir o inferno?
— Quem é você, estranho? – Pergunta a criatura apontando a sua lança em minha direção.
— Saiam da minha frente demônios, senão...
— Senão, o quê? – Pergunta a segunda criatura se aproximando.
— Senão terei que matá-los! – Respondi sem muitas delongas.
— Tu és louco estranho, não sabe onde pisa? Quem o mandou? – Pergunta a criatura, em tom de zombarias.
— Vim guiado pelo ódio e sofrimento que aqui se encontra, preciso falar com Lúcifer, talvez o mate! Mas vocês poderão viver se me deixarem prosseguir...
    A criatura sorri com gargalhadas ensurdecedoras  Matar Lúcifer? Por acaso, mandaram um bobo da corte para nos divertir? - Enquanto abaixa sua lança aproxima seus olhos sobre mim, naquele momento fui tocado pela enorme língua expelida de sua boca, talvez quisesse sentir o sabor da minha pele - ou me intimidar?
Um colapso de fúria tomou conta de mim naquele momento, sequer senti o meu punho subir naquela velocidade, soquei o queixo da criatura com muita força, a lança voou de suas mãos, caindo cravada ao chão. Em seguida grudei o seu pescoço ainda no ar, finalizei com a sua vida atravessando o seu coração com meus próprios punhos.
A segunda criatura ao ver minhas ações tentou fugir, mas deslizei em sua direção com a mesma velocidade em que atravessei os corredores das salas brancas, cravei a minha mão sobre a sua coluna, destrocei todos os ossos do seu corpo, apenas os restos caíram ao chão... Corpos... Eram apenas corpos sobre meus pés, não vi mais nenhum surto de arrogância naquele local, talvez ainda os quisesse vivos, para que comentassem as suas próprias mortes, quem era o fraco agora?
Após matar os guardiões, derrubei os portões do inferno, o calor insuportável veio ao meu encontro, naquele momento tive a sensação de adentrar uma caldeira efervescente. No meu caminho presenciei o sofrimento eterno, as almas estavam jogadas para todos os lados, homens choravam aos meus pés, imploravam pela misericórdia “talvez me tivessem como um Deus”.
Caminhei pelos corredores mais arrepiantes que já vi em minha vida, pela primeira vez havia sentido o medo após a minha morte. Ao longe avistei um trono negro esculpido por barro, o cheiro de enxofre vinha do rio de lava que o circulava, precisaria atravessá-lo para ficar frente à Lúcifer.
Ao me aproximar senti os estribos de meus ouvidos tremerem, o som insuportável vinha das correntes que seguravam o demônio, que ao me ver começava a ficar inquieto. Eu o encarava sem intervalos, estava enfeitiçado pelo pavor, que era expelido da grande criatura de forma horrível. Continuei me aproximando, nem sequer senti o calor das lavas que banhavam os meus pés, atravessei o córrego de enxofre em apenas alguns segundos...
— Quem é você? Como entrou aqui? – Gritava Lúcifer se dirigindo a mim.
Não respondi nenhuma de suas perguntas. Quando fiquei frente a ele, toquei o meu rosto contra o dele, o demônio era horrível, sua enorme cabeça de bode continha seis chifres banhados a sangue apodrecido, os olhos eram negros como a escuridão sem fim, o corpo era humano, mas as garras eram de um gavião, o bafo quente expelido de suas narinas cobria todo o lugar, com uma fumaça cinzenta.  Depois de alguns segundos quebrei o vinculo de silêncio.
            — Não pode me intimidar com a sua horrível aparência, pois os seus atos nos mundos dos vivos são ainda mais medonhos do que você próprio.
A criatura recuou o seu rosto, com um pequeno sorriso, respondeu:
 — Eu posso ter várias formas, visitante, apenas me diga quais são as suas prediletas? – Nesse momento ele se tornou um anjo de luz, a sua beleza era esplendorosa, os seus olhos eram azuis como os céus em dias ensolarados, joias de todas as cores enfeitavam o seu corpo.
Naquele momento, estava tão enfurecido, que podia sentir minhas palpitações saltarem em sincronismo com o ranger dos meus dentes.
 — Não viajei até aqui para apreciar os seus truques, maldito! Reprimo o seu sorriso, disponho da sua falsidade... Farei algumas perguntas, exijo as respostas corretas, talvez se colaborar comigo, pouparei a sua medíocre existência.
— Lúcifer sorriu — Presumo que veio-me matar? Então o faça todo-poderoso! Não sabe o quanto aguardo por esse dia. – Essas palavras foram ditas com grande tom de zombarias, as grandes sobrancelhas angelicais daquele homem, deslizaram devagar sobre a sua testa iluminada, seus olhos estavam focados sobre mim, mas e o medo que eu havia sentido há um tempo? Havia desaparecido?
Ele não estava com medo de mim? Aquele sorriso malicioso que estampava o seu rosto era verdadeiro? Estou vivendo um jogo. Mas quem sou eu nesse jogo, apenas uma peça de xadrez descartável? Quem são as torres, a rainha, o peão?

                                      (continua após alguns capítulos).

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